Certamente você já ouviu falar sobre realidade virtual e sua aplicação em jogos eletrônicos e na indústria do entretenimento, mas já parou para pensar como ela vai mudar a apresentação de projetos profissionais, ou mesmo a execução deles? Eu trabalho há pouco mais de 5 anos com desenvolvimento de jogos, e há mais ou menos 2 anos tive a oportunidade de trazer esse know-how para dentro de uma empresa de #engenharia, a IBR Engenharia, onde trabalhei ao lado de profissionais da engenharia e arquitetura, e onde tive o grande privilégio de poder abordar as tecnologias emergentes da Realidade Virtual e Realidade Aumentada sob uma outra perspectiva, da construção civil.
Nesse pouco tempo inserido em um universo que eu não conhecia até então, tive muitos aprendizados tanto técnicos quanto teóricos, além disso pude experimentar um dispositivo de VR, algo ainda bastante inacessível para o brasileiro comum, mas principalmente pude ter um #insight sobre as necessidades desse mercado e como essas tecnologias podem, no futuro, fazer toda a diferença para os profissionais do ramo.
Entender o passado e se preparar para o futuro.
Há muito tempo atrás, as únicas maneiras de mostrar projetos de engenharia, arquitetura ou empreendimentos imobiliários para clientes era através de plantas baixas, desenhos conceituais e desenhos técnicos, que não refletem exatamente a realidade muitas vezes causando insatisfação no processo de compra. As técnicas evoluíram e começaram a surgir maquetes e plantas humanizadas, que passaram a dominar o mercado imobiliário e arquitetônico. Durante décadas foram as formas mais comuns de representação de um apartamento, uma casa à venda, ou um prédio em construção, mas ainda assim muitos clientes “só acreditam vendo”, e as construtoras têm que recorrer a grandes descontos para vender os imóveis antes de estarem prontos, para financiar a obra.
Nos últimos anos temos visto cada vez mais a presença de renderizações fotorealistas, feitas através de softwares de modelagem, mostrando com mais qualidade, e de diversos ângulos, as moradias que ainda se encontram apenas em modelos digitais nos computadores dos profissionais da engenharia e arquitetura, mas ainda são imagens estáticas, ou vídeos simples, aos quais o público já se acostumou e também não representa totalmente a realidade, por maio que seja qualidade que apresentem, o cliente sabe que está comprando um imóvel que não está pronto e não consegue ter uma real dimensão do espaço, da sensação de estar naquele ambiente. Isso é um entre vários fatores de resistência na hora de comprar.
Podemos dizer com grande certeza, nesse momento, que a indústria como um todo caminha para complementar essas formas de demonstração com tecnologias emergentes, como a Realidade Virtual e Aumentada, para dar aos clientes finais uma visão imersiva do imóvel que está adquirindo, muito antes de sequer começarem as obras. Mas seria só isso que a Realidade Virtual tem a oferecer à construção civil?
Na verdade, essa é apenas a ponta do iceberg e você já deve ter visto dezenas de vídeos mostrando brincadeiras interessantes com marcas usando tais tecnologias, até mesmo móveis aparecendo na sala da sua casa através da tela do celular, na tal realidade aumentada, incluindo também já alguns vídeos de visualização arquitetônica em VR, visitando um apartamento decorado como se você estivesse dentro dele, navegando por cada cômodo. Não me entenda mal, isso tudo são coisas legais, importantes de se desenvolver e ainda relativamente novas para a maior parte do público. Porém há uma camada ainda pouco explorada dessa tecnologia que eu acredito ser a verdadeira mina de ouro da revolução virtual: a utilização dessas tecnologias na produção de projetos, e não apenas nas suas demonstrações.
Acima, por exemplo, a utilização de uma engine de criação de jogos para exibir em tempo real, de forma interativa, as instalações de infraestrutura de um loteamento. O jogador pode navegar pelo cenário com um personagem, ou de carro, para ter uma noção imersiva das dimensões, e poder prever problemas ainda na etapa de projetos, alternando a “visão de raio-x” para visualizar as instalações abaixo do solo.
Vou usar como exemplo da utilidade da Realidade Virtual, um case de um projeto que não foi publicado, não teve grande exposição, não ficou famoso, nem mesmo era voltado ao público geral, e mesmo assim pode ter trazido milhões de reais para o bolso de nossos clientes.
Como?
Assim que entrei na I-BR, o primeiro projeto que tive contato era uma visualização arquitetônica de grande porte, feita para mostrar um empreendimento de alto padrão em Realidade Virtual. Uma tarefa quase impossível, visto que queríamos uma qualidade gráfica superior, trabalhávamos com modelos extraídos diretamente do Revit e outras ferramentas comuns à engenharia (mas que geram modelos pesadíssimos para usar em outros programas). Pra completar, o projeto nem mesmo era encomendado pelo cliente, mas feito por iniciativa da própria I-BR Engenharia que queria apresentá-lo como parte dos projetos de infraestrutura que já estavam sendo feitos para esse cliente, algo como um “bônus” que procurava despertar essa curiosidade pela inovação.
Não conseguimos alcançar a qualidade realista que queríamos no começo, por diversos fatores, desde minha falta de experiência e conhecimento em diversos aspectos da produção, até o tamanho gigantesco do projeto e a ambição de buscar uma qualidade realística em um projeto daquele tamanho (normalmente vemos vistas de mais qualidade em pequenos ambientes), passando também pelas limitações do próprio dispositivo que usávamos na época. Porém, durante uma das visitas da arquiteta que liderava o projeto na construtora, ao andar pela sacada de um dos apartamentos que estava sendo projetado, com os óculos de Realidade Virtual, ela pode ver algo crucial: a vista daquela sacada estava sendo parcialmente bloqueada pelo prédio em frente, algo que mesmo para arquitetos experientes pode ser difícil de prever com exatidão através de uma planta, ou mesmo através de um modelo 3D isolado, principalmente levando em conta que era um prédio de arquitetura moderna, com diversos desníveis e em meio à natureza. Vendo a partir da planta ou mesmo do modelo 3D do projeto, dava a impressão realmente de que a distância entre os prédios seria o suficiente e sabendo a altura do apartamento era possível imaginar a vista… mas tendo a vista em tempo real, de dentro do apartamento, vendo as montanhas, a lagoa e a vegetação que fazem parte da paisagem real, ela pode ter a percepção definitiva que o prédio em que estava precisava estar cerca de 2 metros mais alto para que a vista fosse perfeita. Agora, imagine perceber isso depois do prédio já estar em construção. Ou pior, depois de já estar pronto! Graças a essa vista, em uma realidade virtual, ainda nas etapas iniciais do projeto arquitetônico e estrutural, a equipe de projetistas pode fazer a adaptação e garantir que os apartamentos mais ao fundo do empreendimento tivessem uma vista tão boa quanto aqueles à beira da lagoa, valorizando o imóvel e facilitando sua venda.
Mais tarde a mesma empresa utilizaria esse protótipo para demonstrar a vista a alguns prospectos, que tiveram uma experiência imersiva de visitar o empreendimento, e vê-lo por diversos ângulos, em tempo real, ao invés de se contentarem em ver apenas plantas e fotos estáticas renderizadas. Dessa vez com um dispositivo mais poderoso que foi adquirido ao longo dessa nossa jornada (a I-BR investiu na compra de um Vive Pro, que fez toda a diferença no desenvolvimento e na qualidade gráfica)… eles puderam analisar as vistas de vários apartamentos, das áreas comuns, e do ambiente ao redor do empreendimento, mostrando que uma mesma simulação poderia servir a diversos propósitos. Mais que isso, esse projeto serviu como evidência de que há algo mais importante a ser explorado com essas novas tecnologias. Não apenas impressionar clientes, mas auxiliar os profissionais a entregarem um produto melhor.
Ao longo desses anos em que trabalhamos em diferentes projetos, protótipos e experimentos, exploramos diversas abordagens, tanto no VR como na AR e estou muito certo de que no futuro próximo teremos um grande fluxo de novas aplicações de realidade aumentada e virtual voltadas ao uso profissional, uma abordagem mais utilitária. Imagine você usar o seu celular para saber onde estão as instalações elétricas de uma casa, sem ter que olhar uma planta ou furar uma parede. Imagine reunir sua equipe de arquitetos em um ambiente virtual multiplayer para tomar decisões e fazer anotações, em tempo real, navegando em um modelo 3D de escala real do projeto que estão trabalhando. Há muitas outras possibilidades e ideias nesse meio, e muitas mudanças acontecendo. O #futuro nessa área é tão brilhante que o setor digital da I-BR, onde trabalhei nos últimos 2 anos amadureceu e nasceu a allie, uma empresa de tecnologia com o intuito de abordar diversos problemas, de diferentes profissões, utlizando a inovação das tecnologias emergentes de VR, AR, Games, Simulações, entre outras, sem nunca esquecer da nossa origem na I-BR Engenharia e as maravilhas que podemos fazer pela indústria da Construção Civil.
Douglas d’Aquino
Desenvolvedor XR (Unity / Unreal)